sábado, 24 de janeiro de 2009

CARMEM MIRANDA

Comemoram em 2009 o centenário de nascimento de Carmem Miranda, a portuguesa que se fez passar por brasileira, divulgando, aos norte-americanos hipnotizados, uma imagem composta de uma fruteira sobre a cabeça (bananas, abacaxis, etc.), roupas e sapatos extravagantes, sambas amigáveis e, claro está, uma sensualidade expressa através de olhares maliciosos e de movimentos elásticos de braços e mãos. Repete-se, nos refluxos do tempo, a mesma história: o colonizador retorna, apropria-se da cultura do colonizado (que nada faz para impedi-lo), ressignifica seus limites e a transforma em produto espetacularizado. Faz fortuna com uma imagem do Brasil que se tornou verdade. Impossível não nos lembrarmos de Zé Carioca, protótipo de brasileiro malandro que se gaba de sua esperteza; impossível não nos lembrarmos da malandragem (o jeitinho brasileiro) que transformou os brasileiros em ameaça constante em diversos países do mundo; impossível não nos lembrarmos da lei de gérson e de suas vantagens; impossível não nos lembrarmos de como ainda se faz política neste país: tudo pode ser espetacularizado - pré-sal, sucessão presidencial, escândalos financeiros. É um caldeirão mais complexo do que o imaginário de Carmem Miranda poderia conceber. É isto o que somos? Talvez seja o momento de devolvermos a portuguesa aos portugueses.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SIMULACROS

Cientistas japoneses da Universidade de Tóquio acabam de desenvolver uma tecnologia que permite ao usuário sentir, com as mãos limpas, sem uso de luvas, objetos virtuais. Como funciona: uma câmera identifica a posição da mão do usuário, a informação é transferida para geradores de ondas ultra-sônicas que emitem ondas de diferentes maneiras, criando uma "forma" em pleno ar. Resultado: sensação tátil de estar percorrendo a superfície de um objeto virtual. Bem, pessoal, esse é apenas um sinal (dentre tantos outros!) de que as fronteiras do que chamamos "mundo real" ou "realidade concreta" estão se misturando com o mundo hiper-real. Isso inspira boas reflexões: quem ou o que somos?; o que chamamos "real" pode ser apenas uma projeção tridimensional criada por nós mesmos. Se é isso mesmo, a que se destina esse mundo?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A ARTE DO PRESENTE

Muito bem, pessoal, vamos inaugurar este blog com a seguinte questão: nossa existência é marcada por uma forte sensação de sobrevivência, de viver nas fronteiras do presente, para as quais não há nome. Neste início de século, encontramo-nos no momento de trânsito em que espaço e tempo se entrecruzam para produzir figuras complexas de diferença e identidade, passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão. Para nós, neste momento histórico que protagonizamos, uma atitude inovadora e crucial não é a adesão aos velhos discursos (comunismo, nazismo, paternalismo, etc.), mas sim a mobilidade além dessas narrativas, o que nos interessa é o movimento pelas zonas fronteiriças, entre as diferenças culturais que podem gerar as mais diversas formas de conexão. Vivemos uma era de novos signos de identidade e novas atitudes de colaboração e de contestação e será através da mobilização e do intercâmbio de todos os conteúdos e de todas as culturas de que dispomos que definiremos a própria idéia de sociedade.