Olá, pessoal. Gostaria, primeiro, de agradecer a todos vocês pelas visitas ao Zona Fronteiriça, ao longo de 2010, pela leitura dos textos e pelos comentários enviados, quer seja no próprio blog, quer por emails ou mesmo pessoalmente. Foram todos muito amáveis e generosos. Em 2011, vou continuar com a publicação das micro-narrativas, uma a cada semana, mais ou menos, pois fazem parte de um projeto literário. Também serão publicados outros trabalhos que, neste momento, estão em fase de elaboração. Por enquanto, deixo outra narrativa (a última de 2010) que ainda não tem título. Dessa vez, decidi propor um pequeno desafio àqueles que, pacienciosamente, visitam o Zona. Leiam o texto e elaborem um título para ele. Um deles figurará como definitivo e será exibido no lugar do "sem título". Trata-se de uma proposta simples através da qual pretendo saber como estão lendo os textos publicados no Zona. Uma vez mais, agradeço sua generosidade e desejo um 2011 excepcional a todos nós. Abraços carinhosos e boa leitura.
Muito tempo se passara desde que ele tivera de deixar o país. Lembrava-se perfeitamente de toda a família, de todos aqueles com quem convivera, dos rostos de cada um deles: conservara-os em si com um realismo vívido só comparável, como ele próprio dizia, aos pintores holandeses do século XVII. Compusera quadros com ruínas de seu passado; sobrevivera aos anos de exílio em nome dessas imagens; suportara as lacerações da distância e da solidão, recriando, dia a dia, a nitidez de cada olhar, de cada sorriso, urdidos no fluir caudaloso dos anos. Mas os tempos de militarismos latino-americanos e suas ferocidades foram aplacados e deram lugar a outras composições sociais que o trouxeram de volta à terra onde nascera. No aeroporto, antes de embarcar, comprou brinquedos ao sobrinho, com quem passara ludicamente os últimos dias daqueles anos. Ao encontrá-lo, viu diante de si um rapaz de dezoito anos, que o recebeu amavelmente, acompanhado de sua namorada. Ele ficou parado, em silêncio, segurando os brinquedos que acabara de comprar, enquanto sentia as lágrimas escorrerem pelo rosto.
FERNÃO GOMES