O sanfoneiro impusera o ritmo nos pés
dos festeiros: o chamado da sanfona não se engana; o chamado da sanfona é o
chamado da sanfona, já dizia o sanfoneiro. Mas vão entrando os casais, entre
aplausos e sorrisos: rendas e vestidos estremecem; chapéus de palha flutuam entre
bandeiras volpianas; há rumores no terreiro. Cavalheiros e damas se
cumprimentam, lá e cá, enquanto esse menino, na barraca dos suspiros, observa o
movimento, leva um cravo na lapela. Sozinho, ele se apressa e fica em pé na
cadeira esquecida de um festeiro, contemplando os casais que se empolgam no
momento do passeio. Eles percorrem a extensão do terreiro, exibindo suas pintas,
seus bigodes pressupostos. Quando os noivos passam pelo menino, os olhares se
encontram: naquele mundo, ela se casa com outro, e tem neste o coração enlaçado
por quem está na ponta dos pés, olhando em silêncio os pares que atravessam o
túnel e seus sobressaltos. Na toada da sanfona e nas veredas da roça, a noiva
deixa acenos, deixa indícios de seus olhos - o menino sente o suspiro derreter
no corpo úmido da língua. No caracol, entre padrinhos, convidados, figurantes, ela
gira, rodopia e se sente entontecer: é um vislumbre dos enganos, das quimeras da
fortuna. A grande roda se desfaz, cavalheiros e damas se despedem, lá e cá,
enquanto esse menino, de volta à barraca dos suspiros, observa o movimento. Logo,
ele receberá uma mensagem do correio elegante. E em algum lugar, outra garota
sentirá um sobressalto, um tênue tremor em seu coração.
para Anderson Dino
FERNÃO GOMES
Pô, Jr, vai escrever bem assim lá em Marte, vai!
ResponderExcluirLindo conto.
Que suave...
ResponderExcluirFiquei feliz com a homenagem... Obrigado, meu irmão!
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