Naquela
tarde, em que todas as substâncias constituiriam, se desejássemos, um campo afortunado
de contexturas transreais capazes de forjar perturbações no espaço entre os
dedos de Deus e de Adão ou entre os lábios do beijo de Rodin; naquela tarde, em
que ele caminhava por uma alameda, produzindo nano-oscilações no tecido que mal
encobre os acessos àqueles mundos; naquela tarde, em que ele sentia o vento
soprar vestígios de irrealidade; naquela tarde, essencialmente naquela tarde, materializou-se
diante dele um sujeito grandalhão, um colosso, um magneto em cujo corpo havia
sinais de uma estranha liga elétrica e partículas de uma geleia mefítica dimensional,
espalhadas pelo casaco escuro. “Com todos os demônios!”, explodiu o monstrengo.
“Encontrei você, afinal!” O rapaz paralisou diante do titã, sentiu o coração
espancar o peito muitas vezes e nada pôde fazer, exceto: “Que é isso?” “Achou
que poderia se esconder nessa realidade patética, malcheirosa e repulsiva? Devolva-me
o cristal ou vai conhecer minha fúria!” O peregrino das alamedas arregalou os
olhos, os traços de seu rosto se distenderam, os lábios se despregaram,
embasbacados, enquanto assistia à incrível transmutação do mutante que se
projetava acima de sua cabeça. De repente, uma luz intensa se expandiu entre os
dois, cegando a criatura, momentaneamente. Segundos depois, quando pôde
enxergar, o peregrino não estava lá.
a Moebius, a Jodorowsky
FERNÃO GOMES
fantástico e fantástico!
ResponderExcluir