domingo, 8 de agosto de 2010

SOCIEDADE RANDÔMICA

Lamento, querida, mas houve um equívoco de sua parte em relação a uma palavra que na verdade eu nunca disse, mas a ouvi daquela sua amiga que veio ter comigo e, a certa altura de nossa conversação, disse-me o seguinte, minha cara, vou contar um segredo, eu me encontrei com o marido dela, naquela mesma noite, após o jantar, vivemos momentos inesquecíveis, nunca sairão de minha memória, ele é realmente um homem maravilhoso, não sei como é capaz de suportar aquela mulher, não sei como consegue viver com ela, em certo momento, diante de minhas inquietudes, ele pôs os dedos em meus lábios, olhou em meus olhos e disse, delicadamente, querida, não quero ver você banhada em lágrimas, mas minha condição limita nossos encontros, não sei até onde suportaríamos as limitações a que ficaríamos sujeitos, porque minha mulher me persegue, não me deixa em paz e usa o ciúme como revelador da efemeridade de meus sentimentos, imagine que, ainda hoje, antes do jantar, ela me disse, não se atreva, não se atreva que eu faço um escândalo, não revele ao mundo que seu nome é veleidade.

FERNÃO GOMES

2 comentários:

  1. Tirando a última palavra, poderíamos gravar a cena e assinar como Woody Aleen, não?

    Com a última palavra, contudo, temo que seja necessário publicar logo um novo livro de Fernão Gomes.

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  2. Alê, sem a última palavra, talvez pensassem numa novela da rede globo.

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