No baile de máscaras os pássaros translúcidos apareceram, repentinamente. Revoaram, em silêncio, descrevendo trajetos irregulares sobre os convidados que os observavam, também em silêncio. Sua presença causou entontecimentos e enjoos nas mulheres e deixou um silvo agudo, quase imperceptível, na sensibilidade confusa dos homens. Os mordomos e as camareiras, que não foram afetados pela aparição daquelas criaturas espectrais, distribuíram calmantes, analgésicos e anti-espasmódicos para os mascarados à beira de surtos de histeria e medo. Passado o mal-estar, que os amontoou sofregamente em filas desordenadas às portas dos banheiros, retornaram à diversão. Aos poucos, ao som da música hipnótica, foram ocupando seus lugares no salão e, minutos depois, estavam completamente entregues aos delírios de seu hedonismo incurável.
P.S.: Durante a aparição das criaturas espectrais, os mascarados, extáticos, nem se deram conta de que um dos convidados, apenas um, horrorizado com o que presenciava, deixou o recinto aos gritos e lançou-se janela afora, consumindo-se naquele precipício íngreme e profundo.
FERNÃO GOMES
Suntosos os tecidos que me velam os olhos,
ResponderExcluirCom carinhos maternos, sutis.
Num momento em que a máscara,
Já não mais impede a passagem de imagens de torpor.
(quanto mais aproximo o eu-rosto maior o ângulo de visão)
Epifanias (enteógenas) despertam,
Determinam o pathos
As pálpebras, já não mais garantem opção.