quarta-feira, 27 de maio de 2009

DEMÔNIOS

Olá. Aqui está outro texto de minha coletânea Construções Discursivas. Espero que provoque reflexões como os anteriores já postados. Abraços. FG


Depois de ouvir relatos sobre vampirismo e outras criaturas, o sujeito levantou-se, quase indignado, rindo ironicamente, e disse aos companheiros que ali estavam: “Como podem perder tempo com essas fantasias pueris? Deveriam ocupar suas vidas com algo concreto e verdadeiro como isto.” Exibiu, orgulhoso, um crucifixo, pendurado ao pescoço. “Ora, francamente.”
E saiu do recinto, fechando ruidosamente a porta atrás de si.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

VERROCCHIO



Olá! Esta é uma das obras mais amadas de Andrea del Verrocchio, artista renascentista italiano. Chama-se David e deve ser apreciada sempre. O Renascimento, como dizem os meus mestres, foi um dos períodos mais gloriosos de toda a História. E é, de fato, uma época absolutamente admirável. Apreciem, criaturas, apreciem. Abraços. FG

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ARTE CONTEMPORÂNEA


Olá, pessoal. Um pouco de arte contemporânea brasileira pra todos. Trabalho da Pri Corbo. Abraços. FG

TECNOLOGIA INTERATIVA

Olá! Depois de muito tempo ausente e sem postagens, publico outra construção discursiva que segue as anteriores. Abraços a todos. Fernão Gomes

No terminal eletrônico, o usuário insere o cartão e observa a interface do monitor transformar-se: no centro da tela, projeta-se o logo do banco; nas extremidades, as operações disponíveis. Ele pressiona a tecla de saque, digita o valor e confirma a senha. Enquanto aguarda a operação concluir-se, ele sente a pressão do metal frio do revólver sobre a nuca e a respiração quente e alterada daquele que o constrange. O terminal libera o dinheiro no mesmo instante em que outro usuário abre a porta do banco. O assaltante se assusta e, por conta da excelente tecnologia da indústria de armas, que produz gatilhos tão sensíveis, acontece o disparo. O assaltante deixa a agência e desaparece na noite, sob o neon intermitente que se reflete na porta de vidro e na tela dos terminais. O primeiro usuário está caído, inerte entre notas e manchas de sangue.
O investigador solicita que o operador de vídeo volte o filme, uma vez mais. Ele assiste à seqüência e, a certa altura, no instante em que o segundo usuário entra na agência, o assaltante olha em direção à porta, permitindo identificar-se. Seguindo instruções do investigador, o operador de vídeo volta a cena, outra vez, até pausá-la no rosto do assaltante. Enquadram-no, imprimem cópias e saem a caçá-lo.
O rapaz pressiona a tecla do controle remoto e interrompe o filme. Levanta-se do sofá, desliga o som, vai à janela, debruça-se, apoiado nos cotovelos e, enquanto limpa os vãos da gengiva com a língua, eliminando as últimas partículas de pizza, contempla a noite sobre o grande centro. Permanece assim por uns minutos, sem pensar em nada, só olhando. Volta ao centro da sala, toma um gole de cerveja e acende um cigarro. Acomoda-se no sofá e continua assistindo ao filme que alugara no final da tarde.
Esse sujeito no apartamento da grande cidade; o investigador e seu assistente; o assaltante e o usuário na agência bancária, podem ser possibilidades, perspectivas que se articulam nos campos fronteiriços da mais complexa e contundente das tecnologias.

domingo, 8 de março de 2009

O VISITANTE II

Olá. Aqui está o segundo texto, que mantém a linha conceitual do anterior. Abraços. FG
Ele entra na sala, onde se dispõe apenas uma pequena mesa, ao centro. Na parede lateral, vê uma criatura engraçada que, em silêncio, o contempla. Ela é tão engraçada que ele começa a rir, incontrolavelmente. Ri tanto, tão hiperbólica e monstruosamente, tão além de suas forças, que sente esvaírem-se-lhe as energias vitais, em meio às lágrimas que escorrem e aos músculos do ventre que doem como se fossem explodir. Em seguida, ele bate a cabeça contra a parede, diversas vezes, e vai ao chão, sangrando e quase sem vida, enquanto a criatura engraçada o contempla, silenciosamente.

domingo, 1 de março de 2009

O VISITANTE

Olá. Gostaria de mostrar a vocês fragmentos da literatura que tenho escrito nos últimos tempos. Se der certo, um dia desses publicarei uma antologia. Boa leitura.



Súbito, a criatura atravessou o campo de visão, deslizando sem equilíbrio pelo mármore escorregadio. Foi quebrar-se nos canteiros uniformes que enfeitam a entrada do Banco Federal. Um funcionário da limpeza, que presenciara a cena, pensou: “Este mundo é uma tremenda instabilidade.” E continuou esfregando o mármore luzidio.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

ADEUS AO MESTRE


Olá, pessoal. Como vão as coisas? Como estão as narrativas de suas vidas? E aquelas inventadas pelos seres humanos para passarem os dias e preencherem as horas? Estou lendo algumas. São contos de ficção científica, uma boa antologia organizada por I. Asimov. Alguns deles são muito bons. Li um intitulado Farewell to the master, de Harry Bates, que deu origem ao filme The Day The Earth Stood Still (O dia em que a Terra parou). As duas adaptações para o cinema são mais ou menos sofríveis. Mas o conto é lindíssimo - e triste. "Klaatu Barada Nikto" não quer dizer nada e não existe no original. E, a propósito, não é Gort; é Gnut.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ELES, O OUTRO.



Olá, pessoal. Uma notícia como essa não pode passar sem uma referência. Objetos voadores não identificados foram vistos no céu do Texas. Algumas autoridades disseram ser escombros de satélites que se chocaram, mas outras afirmam ser um fenômeno independente de satélites desgovernados. Deem (nova ortografia) uma olhada no link e no video. E reflitam um pouco não sobre a existência de inteligência extraterrestre (o que seria extremamente rudimentar), mas sobre como vamos atuar diante desse contato iminente com o outro, se ainda não resolvemos os nossos diatribes, as nossas aporias. Abraços.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

NOTÍCIAS

1) Garota no RS diz ter sido atacada por lobisomem; 2) na Inglaterra, uma gata aprecia tomar banhos; 3) mulher tem óctuplos (difícil de pronunciar, inclusive) e até então biologicamente impraticável em humanos; 4) 2009 terá três sextas-feiras 13, fenômeno inédito; 5) carro inspirado em game (Gran Turismo 5) foi exibido no 24º Salão Internacional do Automóvel; 6) Barack Obama é o novo herói (também) de games online e de uma empresa peruana de games, a Inka Games. A que mundo ele pertence? De que mundo ele tornou-se esperança e possível solução?; 7) a imprensa brasileira continua afirmando que Carmem Miranda é a "pequena notável"; 8) o presidente disse ser "leitor" e "inteligente". Muito bem, pessoal. Sei que falo-escrevo quase que para as paredes (e, às vezes, para alguns seres interdimensionais que insistem em me observar, etc), mas será que agora é possível entender o nome e o sentido deste blog? O "real" no qual aprendemos a nos mover, a respirar e a desenvolver sistemas de crenças, está aí, frágil das pernas, descambando circo abaixo. Putz!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

QUADRINIZAÇÃO

Eis uma belíssima criação de Roy Lichenstein, conhecido artista pós-moderno da geração de Warhol. É uma sugestão de entrecruzamento de mundos cujas fronteiras se misturam constantemente: quadrinhos (comics, hq) e o que chamamos de "real". Diz uma pesquisadora portuguesa, Jacinta Maria Matos, que as linhas de definição entre realidade e ficção já se dissolveram, pelo menos nos planos epistemológico e ontológico. Vamos pensar um pouco, pessoal. Abraços.

sábado, 24 de janeiro de 2009

CARMEM MIRANDA

Comemoram em 2009 o centenário de nascimento de Carmem Miranda, a portuguesa que se fez passar por brasileira, divulgando, aos norte-americanos hipnotizados, uma imagem composta de uma fruteira sobre a cabeça (bananas, abacaxis, etc.), roupas e sapatos extravagantes, sambas amigáveis e, claro está, uma sensualidade expressa através de olhares maliciosos e de movimentos elásticos de braços e mãos. Repete-se, nos refluxos do tempo, a mesma história: o colonizador retorna, apropria-se da cultura do colonizado (que nada faz para impedi-lo), ressignifica seus limites e a transforma em produto espetacularizado. Faz fortuna com uma imagem do Brasil que se tornou verdade. Impossível não nos lembrarmos de Zé Carioca, protótipo de brasileiro malandro que se gaba de sua esperteza; impossível não nos lembrarmos da malandragem (o jeitinho brasileiro) que transformou os brasileiros em ameaça constante em diversos países do mundo; impossível não nos lembrarmos da lei de gérson e de suas vantagens; impossível não nos lembrarmos de como ainda se faz política neste país: tudo pode ser espetacularizado - pré-sal, sucessão presidencial, escândalos financeiros. É um caldeirão mais complexo do que o imaginário de Carmem Miranda poderia conceber. É isto o que somos? Talvez seja o momento de devolvermos a portuguesa aos portugueses.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SIMULACROS

Cientistas japoneses da Universidade de Tóquio acabam de desenvolver uma tecnologia que permite ao usuário sentir, com as mãos limpas, sem uso de luvas, objetos virtuais. Como funciona: uma câmera identifica a posição da mão do usuário, a informação é transferida para geradores de ondas ultra-sônicas que emitem ondas de diferentes maneiras, criando uma "forma" em pleno ar. Resultado: sensação tátil de estar percorrendo a superfície de um objeto virtual. Bem, pessoal, esse é apenas um sinal (dentre tantos outros!) de que as fronteiras do que chamamos "mundo real" ou "realidade concreta" estão se misturando com o mundo hiper-real. Isso inspira boas reflexões: quem ou o que somos?; o que chamamos "real" pode ser apenas uma projeção tridimensional criada por nós mesmos. Se é isso mesmo, a que se destina esse mundo?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A ARTE DO PRESENTE

Muito bem, pessoal, vamos inaugurar este blog com a seguinte questão: nossa existência é marcada por uma forte sensação de sobrevivência, de viver nas fronteiras do presente, para as quais não há nome. Neste início de século, encontramo-nos no momento de trânsito em que espaço e tempo se entrecruzam para produzir figuras complexas de diferença e identidade, passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão. Para nós, neste momento histórico que protagonizamos, uma atitude inovadora e crucial não é a adesão aos velhos discursos (comunismo, nazismo, paternalismo, etc.), mas sim a mobilidade além dessas narrativas, o que nos interessa é o movimento pelas zonas fronteiriças, entre as diferenças culturais que podem gerar as mais diversas formas de conexão. Vivemos uma era de novos signos de identidade e novas atitudes de colaboração e de contestação e será através da mobilização e do intercâmbio de todos os conteúdos e de todas as culturas de que dispomos que definiremos a própria idéia de sociedade.