Posso
sentir sua presença movendo-se pelo éter, atravessando evanescências psíquicas,
aproximando-se pelo ar, na escuridão da Terra. Tenho esperado por esse encontro,
mas confesso que sinto um tremor em meu coração. O medo inspirou tudo o que construí; tudo o que
queima profundamente dentro de mim. É deplorável senti-lo, eu sei, mas sua
vibração em mim também pode ser um refinamento de sensibilidade, uma
possibilidade para a depuração do ser, para uma futura expansão da consciência.
Tenho esperado por esse encontro. Esses pensamentos não passam de
conjecturas, de devaneios fragmentários de minha inquietude, porque falo através de uma das muitas faces do ser infinito que sou,
mas minha consciência disso é meramente retórica, não se manifesta em seu
esplendor fenomenológico. Sinto sua presença aproximando-se pelo ar, na noite
fria. Se alguém contemplasse agora os meus olhos, sentiria como neles se
expressa a calma de quem não deseja mais o festim das emoções, a serenidade de
quem não busca mais as vozes alteradas das ilusões do mundo, o silêncio de quem
está saciado do furor das paixões, mas também veria o brilho de quem pisou os
lagares de sangue, de quem percorreu os caminhos inconfessáveis de todos os terrores,
o furor diabólico de quem não consegue mais se saciar com as velhas medidas. Tenho febre,
tenho fome e há muito tempo espero por esse encontro.
FERNÃO GOMES
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