sábado, 24 de janeiro de 2009

CARMEM MIRANDA

Comemoram em 2009 o centenário de nascimento de Carmem Miranda, a portuguesa que se fez passar por brasileira, divulgando, aos norte-americanos hipnotizados, uma imagem composta de uma fruteira sobre a cabeça (bananas, abacaxis, etc.), roupas e sapatos extravagantes, sambas amigáveis e, claro está, uma sensualidade expressa através de olhares maliciosos e de movimentos elásticos de braços e mãos. Repete-se, nos refluxos do tempo, a mesma história: o colonizador retorna, apropria-se da cultura do colonizado (que nada faz para impedi-lo), ressignifica seus limites e a transforma em produto espetacularizado. Faz fortuna com uma imagem do Brasil que se tornou verdade. Impossível não nos lembrarmos de Zé Carioca, protótipo de brasileiro malandro que se gaba de sua esperteza; impossível não nos lembrarmos da malandragem (o jeitinho brasileiro) que transformou os brasileiros em ameaça constante em diversos países do mundo; impossível não nos lembrarmos da lei de gérson e de suas vantagens; impossível não nos lembrarmos de como ainda se faz política neste país: tudo pode ser espetacularizado - pré-sal, sucessão presidencial, escândalos financeiros. É um caldeirão mais complexo do que o imaginário de Carmem Miranda poderia conceber. É isto o que somos? Talvez seja o momento de devolvermos a portuguesa aos portugueses.

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