quarta-feira, 24 de novembro de 2010

HOTEL NACIONAL

“Sua presença é uma onda, uma perturbação para os meus sentidos. Sua presença é tão simples e inexplicável como uma mulher dentro de um homem. Mas sua presença não é uma inovação em mim: ela me dá mais de tudo quanto já tenho e sinto, ela me dá mais do mesmo. Sua presença é repetição; seu olhar percorrendo meu corpo é repetição; sua ingenuidade simulada é repetição; seu sentimento amoroso, constrangedor e excessivamente teatralizado, é repetição; o sexo entre nós é repetição. Mesmo assim eu desejo todas essas repetições, bem como os intervalos sugeridos entre elas, porque neles posso descobrir esconderijos, porque neles posso ser outra, posso ser outras. Sua presença em minha vida é um fantasma percorrendo corredores sombrios. Eu desisti da ilusão de ser feliz; não tenho mais esse tipo de frivolidade. O próprio amor tornou-se um horror social: nós fizemos dele um monstro. Nunca mais se aproxime de mim, até a semana que vem.” Ela se levantou da poltrona e deixou o quarto. Enquanto isso, ele ficou sentado na beira da cama, olhando quieto a lâmina de luz que penetrava o ambiente pela fissura da porta que ela não fechara completamente.


FERNÃO  GOMES


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