O taxista atrita as mãos, aproximas-as da boca, como se compusesse uma prece, bafeja nelas e as esconde nos bolsos do casaco. Olha de relance no espelho retrovisor: no banco traseiro, o passageiro solitário permanece imóvel, olhando nostalgicamente, pelo vidro molhado, as luzes do semáforo, refletidas no asfalto. O taxista liga o rádio e, por alguns instantes, a música de Moby[1] traz a chuva para dentro do carro. Uma luz intensa, possivelmente do poste mais próximo, projeta-se no veículo e chega a ofuscar os efeitos do semáforo no asfalto. O taxista curva-se sobre o volante e olha para cima, protegendo os olhos, mas sente no corpo um cansaço excessivo e, sonolento, acomoda-se no banco e adormece. No rádio, que por um instante perdera a sintonia, continua a mesma canção, enquanto as cores do semáforo alternam-se no asfalto e no banco traseiro, que agora está vazio.
FERNÃO GOMES
[1] Whispering Wind.
Aos leitores deste conto,
ResponderExcluirse puderem, deixem aqui uma hipótese para o que aconteceu ao passageiro do táxi.
Eu acho que ele ficou com medo da luz e saiu correndo, e vcs?
tudo bem sim e ai?HAHA valeu pelo elogio *-*
ResponderExcluirO passageiro do táxi era um alien, e simplesmente ele saiu do táxi e embarcou em sua nave, por isso a luz ofuscante e a perda de sintonia do rádio... pode ser...ou não...
ResponderExcluirF.G., te confesso que ler o seu conto ouvindo Whispering Wind, a sensação tornou-se mais real e incrívelmente tentadora. Merece uma obra minha... Abcs. Aksel Nascimento
ResponderExcluir