sábado, 20 de julho de 2013

A SOMA DOS DIAS


Lembro-me vagamente de palavras lançadas ao vento frio, naqueles corredores extensos. Eu não podia ver o fim daquelas paredes altíssimas, tão longínquas e escuras, tão indevassáveis nas alturas e nas sombras de uma ilusão em forma de perspectiva. Ela dizia, sorrindo: “Venha passear comigo pelos campos sulfurosos da Terra.” Eu me esforçava para alcançá-la, impunha-me forças descomunais, ação aflitiva de músculos espartanos, mas ela se dissolvia e escapava por entre os meus dedos, como um vapor fugidio, como uma paixão que se desfaz ao menor movimento. 

FERNÃO GOMES

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