quarta-feira, 23 de junho de 2010

GÓTICO

O fragor das grandes portas que se fecham ruidosamente foi o último sinal sonoro da Irmandade. Durante muitos eons, nada mais poderia turvar a finíssima estampa de imortalidade que se instalara na sala de armas. Nem mesmo o súbito e acústico movimento de asas, que costuma transitar pelos campos de sonhos, seria entrevisto. Nada. Nenhuma perturbação na grande câmara. Apenas os espaços e suas intrínsecas relações geométricas forjariam os ambientes marmóreos e glaciais, outrora aquecidos pela presença da Irmandade. De agora em diante, sobre as urnas álgidas, move-se um espectro de ancestralidade, um misterioso frêmito de pétalas encarnadas, como uma paixão intensa, que faz de todos os tempos um só tempo, e de todas as ilusões uma só ilusão.
FERNÃO GOMES

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