sexta-feira, 18 de junho de 2010

LUTO

Olá, criaturas. Hoje, 18 de junho de 2010, faleceu o escritor português José Saramago. Sofremos mais uma derrota. Vão-se os filósofos, os artistas, os sonhadores; ficam os algozes da humanidade, ficam os presidentes, os hipócritas. Poderia escrever muitas linhas sobre a importância de Saramago em minha vida, mas não será necessário: estou certo do que ele representa, do que em mim é, agora e para sempre, sua humanidade e sua voz contundente. Neste momento, gostaria apenas de deixar uma pequena homenagem a esse mestre extremo: um trecho de seu livro As intermitências da morte, de 2005.



Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contacto dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.



Obrigado e até a próxima.


Fernão Gomes

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