sábado, 19 de junho de 2010

SARAMAGO, UMA VEZ MAIS

Olá. Gostaria de fazer outra pequena homenagem ao escritor José Saramago. Desta vez, deixo uma passagem do Desconstrução, ficção que publiquei no final de 2005. Espero que, de algum modo, ele saiba, o que nesta vida (como era meu desejo) não foi possível.
Agora ele compreende que esta realidade é determinada pelo modo como ele próprio a observa, e que os modelos que se constroem ao seu redor são reflexos de sua mente, reflexos dele mesmo. Aproxima as mãos de seu rosto e as movimenta, de um lado a outro, dobra e estica os dedos, repetidamente, observando as articulações, as falanges. Em seguida, passa os dedos, com delicadeza, sobre as pálpebras, com movimentos irregulares, como que para relaxá-las, e a fim de massagear os olhos exaustos e desenganados. Ele está em busca de uma resposta, não há dúvida, mas, para o momento, o que tem são só suas mãos abertas e o olhar perplexo de quem acaba de perder as amarras que o detinham às ilusões deste mundo. Como um barco solitário, ele se desprende do cais e desliza pelas águas de um mar que se abre à sua frente, largo, profundo, silencioso.
Até a próxima.
FERNÃO GOMES

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