sábado, 15 de janeiro de 2011

ENTROPIA

Três homens de cabelos e barbas longas correm exaustos pela neve, seus corpos estão cobertos de peles de animais, eles carregam lanças e objetos de caça, enquanto olham para trás, alguma coisa os amedronta. Essa circunstância está acontecendo agora, há 50 mil anos, em algum ponto da Ásia. Eles param por um instante e, enquanto resgatam o fôlego, olham na direção de uma passagem entre pedras, mas veem apenas o próprio rastro. O vento gelado fere feito lâmina, forçando-os a comprimir os olhos e a retesar os músculos. Os caçadores sentem que algo se aproxima, está em curso uma batalha pela vida. De repente, ouvem o horror muito próximo, começam a correr, agora com mais vigor, porque sabem que suas vidas estão em perigo. Logo, o inevitável acontece: cercados e sem outra possibilidade defrontam-se com a entidade que os persegue. Durante o combate, um deles defende-se com a clava e o último golpe de sua vida acerta em cheio as costas de uma garota que ouve moogs e sons eletrônicos numa estação do metrô de Tóquio, arrojando-a furiosamente contra o chão, onde permanece desacordada.

FERNÃO GOMES

3 comentários:

  1. Confesso que esta ideia me deixou completamente embasbacado. Li-a na hora do almoço e até agora, quase noite, ainda me martela a mente com fúria de excelente literatura.
    (Quem saberá dizer se algum tacape em outra época e outro local não vibrou com acerto atingindo-me aqui em Bauru?)

    Um abraço, Jr!

    ResponderExcluir
  2. Em minha interpretação, vejo a distância de costumes passados e como foram esquecidos, mas mesmo assim, com sua força apagada, entram em conflito com nós, que buscamos nos aprofundar.

    Afinal, quem disse que somos nós quem destruímos nosso passado, e não o inverso? A verdade só saberá quem busque saber.

    ResponderExcluir
  3. Física quântica, Teoria das Cordas, será que as duas realidade se chocaram? Excelente, como sempre. Abraços
    Axl Nascimento

    ResponderExcluir