sábado, 12 de fevereiro de 2011

SINAIS

Os batimentos cardíacos aumentam, parece que vai explodir, é noite, ele corre pela rua estreita de alguma favela do grande centro, olhando muitas vezes para trás, porque vêm à sua mente, em flashes velocíssimos, imagens confusas daquilo que o faz correr com vigor extraordinário, daquilo que vem logo atrás e se aproxima perigosamente, ele não compreende, não sabe o que é, faz muito frio, o suor escorre por todo o corpo, ele sente arrepios de medo, não consegue pensar, enquanto salta um muro, desce uma escada, vira à direita, atravessa o corredor estreito, vira à esquerda e sai num descampado que conduz a outras habitações, ele está próximo do ponto aonde quer chegar, agora sobe um barranco, usa as mãos pra ganhar impulso, sente a presença de algo acima de sua cabeça, as lágrimas escorrem pelo rosto, o choro silencioso transforma-se em gritos, ele quase arrebenta a porta do barraco, agarra-se à cintura de sua mãe, esconde-se atrás dela, chorando, gritando de medo, começa a sentir formigamentos por todo o corpo, enquanto olha em direção à porta e vê a luz intensa envolvendo a habitação, o pequeno hermes cai de joelhos, dobrado em si mesmo, sentado no próprio calcanhar, arranha o peito aflitivamente como se o rasgasse, o tronco e a cabeça são projetados para trás no momento em que um largo feixe de luz expande-se de seu peito em meio aos gritos estridentes dele e de sua mãe. Curvada sobre o filho, tentando ampará-lo, ela olhou em direção à porta e, no mesmo instante, soube que eles estavam lá.

FERNÃO GOMES

2 comentários:

  1. Jr,

    Torço para que todos esses microcontos sejam fragmentos de contos maiores ou em vias de escritura.
    Isso porque eu não gostaria de passar o resto da minha vida sem saber quem são eles, ou, melhor pensando, O QUE são eles.

    Ótimo texto, viagens em mil tonalidades.

    Abraço.

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  2. Sandi, gosto da ideia de um final ou uma explicação para esses fenômenos presentes nos microcontos do Jr., mas fico pensando se não é essa incompletude do enredo o que mais me atrai.

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