sexta-feira, 8 de julho de 2011

TAXI BOY

“Haverá um tempo para todas as coisas? Você acredita nisso? Que haverá um tempo em cujas entranhas repousa, silenciosa, a compreensão de todas as coisas? Ainda que houvesse, quantas delas, essenciais para uma vida, são assimiladas tarde demais, tão tarde que chega a ser um ultraje, tão tarde que nenhuma lágrima explica.” Levantou-se, passeou nu pelo quarto, completou o cálice, acendeu um cigarro. “Sua ingenuidade me dá calafrios, porque não é dissimulada; é expressão espontânea de preconceito mais do que seria artifício do orgulho. E isso é tudo o que você tem: o seu preconceito, razão da percepção tardia das coisas, como já disse. Enxugue suas lágrimas, elas são inúteis e não explicam nada. Quantas níobes há em você? Que desperdício! Vista-se e saia. Jamais diga ao seu namorado o que não aconteceu entre nós. Ele nunca entenderá.” Virou o último gole de vinho e ficou quieto, fumando, esperando que ela se recompusesse. “Eu poderia amar você uma vida inteira.” Ela saiu chorando, enquanto ele voltou para a cama. Ao passar pelo espelho, sua imagem não se refletiu na lâmina.

FERNÃO GOMES

Um comentário:

  1. Pergunto-me se o Fernão Gomes tem a sua imagem refletida ou vive seus dias de eternidade como uma espécie de vampiro-autor!

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