quinta-feira, 30 de junho de 2011

CARDUME

A água seguia seu curso, sem sequer um murmúrio; envolvia a madeira do cais, com pequenas ondulações, cintilando aos tênues raios do último sol. Um vento gelado trazia as primeiras nuvens da frente fria. Sentados, os rapazes balançavam as pernas, enquanto observavam pequenos cardumes, nadando em sincronia como se fossem uma só entidade. “Estive pensando...” “Em quê? Na fórmula de Drake?” O outro sorriu: “Também. Mas dessa vez foram os peixes. A ideia de cardume.” E ficaram quietos, olhando um para o outro, traduzindo-se sem palavras. Semanas depois, católicos, protestantes, evangélicos, budistas, taoístas, xintoístas, umbandistas, ortodoxos, adventistas, kardecistas, mórmons, gnósticos, agnósticos, ateus, rosacruzes, maçons, reconstrucionistas, xamanistas, bruxos, druidas, ufólogos e centenas de livres pensadores encontravam-se reunidos no deserto de Atacama, alçando seus olhos aos céus. Houve entre eles um grande silêncio, seguido de um inusitado movimento de ontologias acima de suas cabeças.

FERNÃO GOMES 

3 comentários:

  1. Interessante como uma ontologia adquire traços de entidade: gente, coisa ou animal; e os livres-pensadores, como posto, a admirar o que vem do alto.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Creio que sejamos como o cardume. Não importa nossa maneira de pensar, estamos sujeitos a qualquer coisa e não há maneira de garantir nossa segurança contra uma lança de um caçador, e nem por essa circunstância podemos elevar o caçador à condição de deus ou entidade mística. Se algo que não esteja em nosso controle pode acontecer, não serão palavras proferidas ao ermo que nos salvarão. O máximo que esta simplória existência permite à nós é que façamos como o cardume, e vivamos um com os outros e não contra.
    Talvez, o único fator na equação de Drake que deixa dúvidas seja sua última incógnita, afinal, o tempo esperado de vida de uma civilização é extremamente volátil, podendo adquirir valores de centenas à bilhões de anos, dando nos a possibilidade de que sejamos a única, ou somente mais uma em milhares. Preocupante? Talvez, mas como já disse, não há nada que nos salve da lança do caçador e não há como definir a índole, de algo que sequer conhecemos, isto posso deixar para os pesquisadores de tal fenômeno.
    P.S.: Se quiser me apresentar à uma civilização extrarrefratária não negarei o convite! :)

    Um abraço!

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